terça-feira, novembro 30, 2010

Los más raros y asombrosos contrastes





























Cada uno de nosotros es, sucesivamente, no uno,
sino muchos. Y estas personalidades sucesivas, que
emergen las unas de las otras, suelen ofrecer entre sí
los más raros y asombrosos contrastes.

José Enrique Rodó

pindaro

Sino con la presencia, y la figura





Descubre tu presencia,
y máteme tu vista y hermosura;
mira que la dolencia
de amor, que no se cura
sino con la presencia y la figura.

S.João da Cruz

pindaro

Ce qui désespère






La définition du beau est facile, il est ce qui désespère
Paul Valery

pindaro

La musique






La musique [...] est la vapeur de l'art. Elle est à la poésie ce que la rêverie est à la pensée, ce que le fluide est au liquide, ce que l'océan des nuées est à l'océan des ondes.
Victor Hugo


pindaro

Sítios inesquecíveis





O amor é duro e inflexível como o inferno.
Teresa Cepeda y Ahumada

oindaro

Une beauté et un mystère






















Un bateau est une beauté et un mystère quelque soit l'endroit où on le voit.
Harriet Beecher Stowe

pindaro

Too well but never wisely




























I think the main reason my marriages failed is that I always loved too well but never wisely.
Ava Gardner

pindaro

A gravidade das leis





























O tempo não existe. Há o presente, a memória, mas o tempo não.
François-Paul Journe


pindaro

A música por baixo da música



























O corpo da mulher era assim. Se o contemplássemos detidamente, podíamos vê-lo mover-se ao ritmo do mundo, o ritmo profundo, a música por baixo da música, a verdade por baixo da verdade.

Salman Rushdie

pindaro

segunda-feira, novembro 29, 2010

Viens dans ce papier blanc




























Venez m'aimer.
Venez.
Viens dans ce papier blanc.
Avec moi.

Marguerite Duras

pindaro

domingo, novembro 28, 2010

Esperarei pelo tempo







O tempo seca a beleza.
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.


Cecília Meireles

pindaro

sábado, novembro 27, 2010

Você é a saudade que eu gosto de ter





























Você foi o melhor dos meus erros
A mais estranha história que alguém já escreveu
E é por essas e outras que a minha saudade
Faz lembrar de tudo outra vez.
Você foi a mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi o caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu
Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim outra vez.
Esqueci de tentar te esquecer
Resolvi te querer por querer

Ivo Pessoa

pindaro

sexta-feira, novembro 26, 2010

Il faut bien pécher de temps en temps




























Il faut bien pécher de temps en temps pour mettre en valeur l'immense miséricorde du Père.

Roger Mondoloni


pindaro

quinta-feira, novembro 25, 2010

Queremos a solidão do grande mar






















A solidez da terra seca, monótona,
parece-nos fraca ilusão.
Queremos a solidão do grande mar,
multiplicada em suas malhas de perigo.
Queremos sua solidão robusta,
uma solidão para todos os lados, uma ausência humana que se opõe ao mesquinho formigar do mundo.


Cecília Meireles


pindaro

quarta-feira, novembro 24, 2010

Neste dia de mar e nevoeiro







Neste dia de mar e nevoeiro
É tão próximo o teu rosto

São os longos horizontes
Os ritmos soltos dos ventos
E aquelas aves
Que desde o princípio das estações
Fizeram ninhos e emigraram
Para que num dia inverso tu as visses

Aquelas aves que tinham
uma memória eterna do teu rosto
E voam sempre dentro do teu sonho
Como se o teu olhar as sustentasse


Sophia de Mello Breyner Andresen

pindaro

terça-feira, novembro 23, 2010

Oiço os passos do Outono





Vem aí a Primavera
diz-me sempre a tua boca
depois do mais que me dera
o que vem é coisa pouca

Olha o Verão que já não tarda
diz-me à tarde o teu peito
por mais frutos que ele traga
não há nenhum tão perfeito

Oiço os passos do Outono
dizem-me à noite os teus braços
o que mais ambiciono
é ouvir só os teus passos

O Inverno há-de chegar
diz-me à noite a tua mão
quanto mais a mão esfriar
mais calor no coração

E dia a dia por nós
passam as quatro estações
têm sempre a tua voz
eu respondo-lhes depois


David Mourão-Ferreira

pindaro

segunda-feira, novembro 22, 2010

Como a fé

























A esmeralda é uma pedra frágil que se quebra com facilidade, como a fé.
Catarina de Médicis


pindar

domingo, novembro 21, 2010

A correnteza das estações







O Outono é a Primavera do Inverno
Toulouse Lautrec

pindaro

sábado, novembro 20, 2010

Na vindima de cada sonho

























O que é bonito neste mundo e anima,
é ver que na vindima
de cada sonho
fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura que se não prova
se transfigura
numa doçura
muito mais pura
e muito mais nova


Miguel Torga

Pindaro

sexta-feira, novembro 19, 2010

Comprimentos e pontas






As emoções são intermináveis - quanto mais as exprimimos, mais maneiras temos de as dizer.
E.M. Forster

pindaro

Um dia a gente se encontra






Fiz um pacto com o tempo:
nem ele me persegue, nem eu fujo dele,
um dia a gente se encontra.


M. Lago

pindaro

Vosso fermoso gesto dentro n'alma

























Julga-me a gente toda por perdido
vendo-me, tão entregue a meu cuidado.
andar sempre dos homens apartado
e dos tratos humanos esquecido.

Mas eu, que tenho o mundo conhecido
e quase que sobre ele ando dobrado,
tenho por baixo, rústico, enganado,
quem não é com meu mal engrandecido.

Vão revolvendo a terra, o mar e o vento,
busque riquezas, honras a outra gente,
vencendo ferro, fogo, frio e calma;

que eu só, em humilde estado, me contento
de trazer esculpido eternamente
vosso fermoso gesto dentro n'alma.


Luis Vaz de Camões

pindaro

quinta-feira, novembro 18, 2010

A arte de dizer adeus com elegância



“Son mis amores reales”
La devise de D. Juan de Tassis y Peralta, Conde de Villamediana
(“Chevalier de l´arène qui affronttait à pied les taureaux simplement pour qu´étincelle la devise que le mena à mort” – L.M. Dominguin)
















O duende, como todo o bom bailador da esquivança, tem pergaminhos difíceis.
O seu campo é um território de labirintos e galerias, para o correr vai-se melhor com explorador. Espanhol e poeta: Federico Garcia Lorca.

O duende, Lorca vai abrindo, é um poder não uma atitude, é uma luta não um conceito, e nenhuma emoção é possível sem a sua mediação.

“Olé! Isto tem duende!”, bradou o bailarino cigano La Malana ao ouvir Brailowski tocar um fragmento de Bach. Agarrara o “é da coisa”, como Goethe quando, falando de Paganini, falava de “um poder misterioso que todos podem sentir e nenhuma filosofia pode explicar.”

O duende fantasia nas interioridades escondidas e, no dizer do explorador, encontra-se “durmiendo en las últimas habitationes de la sangre”.

Ama as fronteiras e as feridas, e aproxima-se dos lugares onde as formas se fundem num anseio superior às suas expressões visíveis. Ser misterioso, meio diabólico meio angélico – os dois ao mesmo tempo – costuma inspirar os que nele crêem.

A sua funda vocação, acrescentaria Henri Thoreau, é a de “sugar o tutano do dia.”

Encanto da região do fogo, demónio furioso e devorador, irmão dos ventos carregados de areia, o duende baila com particular ligeireza por dentro dos cantadores ciganos, dos toureiros e dos poetas.

É ver João Cabral de Mello Neto:


(...)
Mas eu vi Manuel Rodriguez
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo
mais mineral e desperto,

(...)
o que à tragédia deu número,
à vertigem geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,

sim, eu vi Manuel Rodriguez,
Manolete, o mais asceta,
não só cultivar sua flor
mas demonstrar aos poetas:

como domar a explosão
com mão serena e contida,
sem deixar que se derrame
a flor que traz escondida.

E como, então, trabalhá-la
com mão certa, pouca e extrema:
sem perfumar sua flor
sem poetizar seu poema.”


“Sueño de una sombra /o sombra de un sueño”, dizia José Bergamin, mas o duende, digo eu, tem um outro dom que é o da impermanência, a arte de dizer adeus com elegância.


Doutor Lívio

Em estado bruto.




























O tédio não é a ausência de paixão, mas a paixão maior e mais envolvente - o desejo de felicidade deixado em estado bruto.

Giacomo Leopardi

Pindaro

A geografia das almas
























Quem nasce à beira mar é boa pessoa
Herberto Hélder

pindaro

Ter às vezes presente




























A vinda dos que não foram
Vasco Sanchez

pindaro

quarta-feira, novembro 17, 2010

Infiel ao seu destino







A minha vida é um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que não ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado ?

Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhã, puro e salgado.

Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando à tona inútil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha

Fernando Pessoa

pindaro

E pois que os amores nunca dão repouso





























Os amores no coração fazem mais rijo e continuado sentimento que outra benquerença, por estas razões:

Primeira, por a contrariedade do entender que os contradiz, mostrando de uma parte quanto mal por eles se faz, defendendo que se não faça, e doutra o desejo que muito com eles reina, requerendo com grande afincamento que persevere no que há começado, fazem uma porfia que continuadamente dá grã pena de espírito, afã e cuidado, do que mui amiúde os namorados se queixam, a qual se não pode passar sem rijos sentimentos.

Segunda, porque rijo, desordenado e continuado desejo, ciúmes e vanglória fazem no coração grande sentimento. E porquanto estes reinam mais com amores que com outra benquerença, porém fazem maior sentido.

Terceira, porque assim como dizem as cousas costumadas não fazerem tanto sentir, por esse fundamento aquelas que se abalam convém que o acrescentem.

E pois que os amores nunca dão repouso por fazerem contentar de mui pequeno bem, assim como de uma boa maneira de olhar, gracioso rir, ledo falar, amoroso e favorável jeito, e de tal contrário se assanham, tomam suspeita, caem em tristeza, filhando tão rijo cuidado por uma cousa de nada, como se tocasse a todo seu bom estado, que o não deixa enquanto dura pensar em al livremente, mas como aquele que tem véu posto ante os olhos vê as cousas, dessa guisa ele pensa em todas outras fora do seu fundamento por cima daquele cuidado que lhe faz parecer todas as folganças nada, não havendo aquela que mais deseja.

E se a cobrasse, que tristeza nunca sentiria, o que é tão errado pensamento como bem demonstram muitos exemplos, os quais não quer consentir que se creiam, posto que claramente de demonstrem, pensando que nunca semelhante como ele sentiu que o contrário pudesse sentir, o que adiante as mais das vezes se demonstra mui desvairado do que parece.

E por aqui se pode bem conhecer, posto que não caia em outro erro, quanto perigo é trazer um tal cuidado assim reinante em ele, que o não deixe pensar em cousa livremente sem haver dele lembramento, e como constrangido cuidar em qualquer outro feito por pesado que seja, para o coração no que tais amores lhe mandam quer embargar seu sentido, desamparando todos os outros por necessários que sejam.

E por estas razões convém que traga e faça maiores sentimentos que outra maneira de amar.


d. duarte
Leal Conselheiro


pindaro

Não é suficiente?






-Quem sois?
Rudolfo Valentino:
-Sou aquele que vos ama.
Não é suficiente?


solino

Bailador



















Não me envergonho de sentir assim, porque já vi que todos sentem assim.
Fernando Pessoa


pindaro

terça-feira, novembro 16, 2010

Bergère d'azur infinie
























La mer qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent, la mer
Des reflets changeants sous la pluie

La mer au ciel d'été confond ses blancs moutons
Avec les anges si purs, la mer
Bergère d'azur infinie

Voyez près des étangs ces grands roseaux mouillés
Voyez ces oiseaux blancs et ces maisons rouillées

La mer les a bercé le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour, la mer
A bercé mon coeur pour la vie

La mer qu'on voit danser le long des golfes clairs
A des reflets d'argent, la mer
Des reflets changeants sous la pluie

La mer au ciel d'été confond ses blancs moutons
Avec les anges si purs, la mer
Bergère d'azur infinie

Voyez près des étangs ces grands roseaux mouillés
Voyez ces oiseaux blancs et ces maisons rouillées

La mer les a bercé le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour, la mer
A bercé mon coeur pour la vie


Charles Trenet

pindaro

Dos fumos da distância




























Dos fumos da distância,
Étereos e azulados,
Surge, vertiginoso,
Um resplendor de chama.
Há fogueiras queimando
Os longes ensombrados;
Dir-se-á que o nosso olhar tudo o que toca inflama.


Teixeira de Pascoaes


pindaro

La robe de ta nudité parfaite.






















Laisse courir
dans les couloirs secrets de ton corps
les cheveux vertigineux de tes désirs.
Eux seuls connaissent la destinée
que l’esprit voilé par des brumes honteuses
n’ose pas découvrir

Mes mains se cherchent sur ton corps
Pour saisir ta forme la plus complète.
Si tu pars, je garderai la robe
De ta nudité parfaite.

Natalia Correia

pindaro

segunda-feira, novembro 15, 2010

Todo pasa y todo queda






Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.


Antonio Machado

pindaro

O importante






Houve alguém que disse uma vez que, no casamento, o importante é que um deles seja a pessoa certa.

Agustina Bessa-Luís


pindaro

domingo, novembro 14, 2010

Coisas de acertamento


























Melão e casamento
são coisas de acertamento.

(provérbio popular)

pindaro

sábado, novembro 13, 2010

Em vários sentidos








Em vários sentidos, os casamentos são segredos que só os protagonistas conhecem.

Martin Amis


pindaro

sexta-feira, novembro 12, 2010

Rescendem misterioso perfume





















As coisas misteriosas são o que há de mais belo, grandioso, e doce na existência. Os mais maravilhosos sentimentos são os que nos agitam com certa confusão: pudor, amor casto, amizade virtuosa, rescendem misterioso perfume. Dirieis que os corações amantes com meias palavras se compreendem e se franqueiam.

François René de Chateaubriand


pindaro

Baise et rebaise-moi








Maîtresse, embrasse-moi, baise-moi, serre-moi,
Haleine contre haleine, échauffe-moi la vie,
Mille et mille baisers donne-moi, je t'en prie,
Amour veut tout sans nombre, amour n'a point de loi.

Baise et rebaise-moi ; belle bouche, pourquoi
Te gardes-tu là-bas, quand tu seras blêmie,
A baiser de Pluton ou la femme ou l'amie,
N'ayant plus ni couleur, ni rien semblable à toi ?

En vivant presse-moi de tes lèvres de roses ;
Bégaye en me baisant, à lèvres demi-closes
Mille mots tronçonnés, mourant entre mes bras.

Je mourrai dans les tiens, puis, toi ressuscitée,
Je ressusciterai ; allons ainsi là-bas,
Le jour tant soit-il court vaut mieux que la nuitée


Ronsard

pindaro

quinta-feira, novembro 11, 2010

Le péché





























Elle pensait que l'occasion faisait le péché, et ne savait pas que le péché forge l'occasion.
Marguerite de Navarre


pindaro

quarta-feira, novembro 10, 2010

Foi bruxaria



















Foi no mês alumbrado dos bruxedos
o aluarado encontro.

Ó Hilária ardente,
túrgida trigueirona,
de sobrancelha sexy e gomo polpudo,

laçaste-me
com a tua boca bárbara.

Ó trémula beleza sem apoio
fiz-te pássaro e como-te no voo.

Não me culpes, amor

foi bruxaria.




Solino

terça-feira, novembro 09, 2010

Os possíveis do homem



























Os possíveis do homem, quem os conhece ? Mas todos eles são reais quando a arte os fixou.
Vergílio Ferreira


pindaro

segunda-feira, novembro 08, 2010

Return to the ocean





























Return in peace to the ocean, my love
I, too, am part of that ocean, my love

Walt Whitman

pindaro

domingo, novembro 07, 2010

Correr o grande risco





Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade.
Clarice Lispector

pindaro

sábado, novembro 06, 2010

Coisas sem feitio



























Para enxergar as coisas sem feitio é preciso não saber nada. É preciso entrar em estado de árvore.
Manoel de Barros

pindaro

sexta-feira, novembro 05, 2010

As silhuetas indecisas




























Eu amo a noite, porque na luz fugida as silhuetas indecisas das mulheres são como as silhuetas indecisas das mulheres que vivem em meus sonhos.
José de Almada Negreiros

pindaro

A gravidade das leis




























Mulheres e gatos fazem o que querem. Homens e cães têm que aprender a viver com isso.
Alan Holbrooke

pindaro

quinta-feira, novembro 04, 2010

Ao Nunca Mais





















E por que, também não doloso e penitente?
Dolo pode ser punhal. E astúcia, logro.
E isso sem nome, o despedir-se sempre
Tem muito de sedução, armadilhas, minúcias
Isso sem nome fere e faz feridas.
Penitente e algoz:
Como se só na morte abraçasse a vida.

É pomposo e pungente. Com ares de santidade
Odores de cortesã, pode ser carmelita
Ou Catarina, ser menina ou malsã.

Penitente e doloso
Pode ser sumo de um instante.
Pode ser tu-outro pretendido, teu adeus, tua sorte.
Fêmea-rapaz, ISSO sem nome pode ser um todo
Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais.

Hilda Hilst


pindaro

Esta é uma declaração de amor


























Esta é uma declaração de amor;
amo a língua portuguesa.
Ela não é fácil. Não é maleável.
E, como não foi profundamente trabalhada pelo
pensamento, a sua tendência é a de não ter sutileza
e de reagir às vezes com um pontapé contra
os que temerariamente ousam transformá-la
numa linguagem
de sentimento de alerteza.
E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro
desafio para quem escreve.
Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e
das pessoas a primeira capa do superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado.
Às vezes assusta com o imprevisível de uma frase.
Eu gosto de manejá-la - como gostava de estar
montando num cavalo e guiá-lo pelas rédeas,
às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse
ao máximo nas minhas mãos. e este desejo
todos os que escrevem têm.
Um Camões e outros iguais não bastaram para
nos dar uma herança de língua já feita. Todos nós
que escrevemos estamos fazendo do túmulo do
pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do
encantamento de lidar com uma língua que não foi
aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever
e me perguntassem a que língua eu queria pertencer,
eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como nasci
muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro
para mim que eu queria mesmo era escrever em português.
Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só
para que minha abordagem do português
fosse virgem e límpida

Clarice Lispector


pindaro

quarta-feira, novembro 03, 2010

És um verso perfeito




















Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.

Miguel Torga

pindaro